quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ambientalista apóia o Movimento

O ambientalista José Truda Palazzo Jr., conhecido internacionalmente por sua luta em prol da preservação da natureza e da baleia-franca, dá seu aval ao Movimento de Recategorização e ao Projeto Mosaico. Em carta endereçada à coordenação do Movimento, ele esclarece esse apoio.

Opinião
“Não tenho procuração para defender o movimento de recategorização (de parte) do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, e tenho deixado de comentar o assunto tendo em vista que entendo as reservas de alguns Conselheiros deste CG sobre o processo. Mas a discussão está tomando um rumo no melhor estilo Israel x Hamas em que, de fato, a verdade é a primeira vítima da guerra.

Pode-se discordar dos processos e mesmo das propostas para recategorização. O que não pode mais é admitir que se fique discutindo isso como se estivéssemos falando de um parque de verdade, de uma Unidade de Conservação implantada e funcionante. O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro na atualidade é uma peça de ficção burocrática da pior espécie, em particular no que tange a sua área de planície. Nele, o Estado permitiu desmatamento, ocupação urbana, sistemas viários, deposição de lixo, plantio de espécies exóticas, queimadas, caça, retirada de palmito, tudo por anos e anos de omissão da mais criminosa e desvairada possível.

Ao ler as mensagens indignadas, entretanto, parece que estamos falando de um paraíso prístino de biodiversidade. Ora, tenham a santa paciência. O Estado de Santa Catarina abandonou a Baixada do Massiambu há anos, mantendo apenas a (heróica e mal paga) Polícia Ambiental e uma pequena burocracia de fachada para fazer de conta que o Parque existia de fato. Entrementes, consumiu uma fortuna de dinheiros estrangeiros em planejamentos e mais planejamentos de uma gestão inexistente, fantasma, que nunca assegurou a conservação de um pé de árvore de fato.

O pior inimigo da conservação, a meu ver, é a aceitação desse tipo de farsa. Que as comunidades no interior do Parque do Tabuleiro existem, e têm crescentes impactos ambientais com os quais o Estado não vem lidando, é inegável. Que há muito que conservar - ainda - nos limites do Parque, também. Achar uma solução para administrar isso através de GESTÃO DE FATO é urgente, e o que menos ajuda a encontrar soluções é essa postura dos burocratas do Estado e dos ecochatos meus colegas de “just say no” para tudo o que se propõe.

Deixemos de ser hipócritas e aceitemos que, lamentavelmente, o Parque que atualmente aí está não protege mais nada de fato na baixada costeira. Ache-se a solução que for, mas chega dessa mentira sobre a intocabilidade de um “parque” que virou suco há muito tempo nas barbas de todos nós. Se não aparecer idéia melhor, sou favorável sim à recategorização.

Como um P.S., os que falam mal de Renato Sehn teriam que se alfabetizar em gestão ambiental antes de poder começar a conhecer o que ele vem fazendo, pessoalmente, pela conservação. Mas minha experiência em SC quanto a esse tipo de coisa é de que predomina a doutrina de Goebbels, de que se repetirmos bastante uma mentira ela vira verdade, independente dos fatos. Enfim, segue o Brasil sendo o que é justamente por causa dessa falta de compromisso com a administração da realidade. Uma pena.

Abraços,
J.Truda”

Quem é José Truda Palazzo Jr.
Nasceu em Porto Alegre em 28 de julho de 1963. Dirige o Projeto Baleia-franca, que em 2007 completou 25 anos. Sua militância na área ambiental começou aos 15 anos, em 1978, quando entrou para a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, dirigida por José Lutzemberger.
Truda é detentor de inúmeros prêmios e membro do Grupo de Trabalho Especial de Mamíferos Aquáticos do Ibama desde sua criação, em 1994. Tem diversos livros publicados, como o primeiro Guia dos Mamíferos Marinhos do Brasil (1988).
Por muitos anos, manteve o Projeto Baleia-franca com recursos próprios, até 2002, quando obteve patrocínio da Petrobras. Hoje, o Projeto é mantido pela Coalizão Internacional da Vida Silvestre (IWC/BRASIL).